AMORTECIMENTO DE POÇOS

Amortecer um poço significa criar uma barreira hidráulica no interior do mesmo, impedindo a surgência de quaisquer fluidos da formação, através da colocação, dentro do poço, de um fluido de peso específico suficiente para gerar um diferencial de pressão poço X formação positivo, também chamado “overbalance”.
Normalmente, o amortecimento é feito com um overbalance de 200 psi em poços de óleo e de 400 psi em poços de gás.
Notar que, para o poço estar amortecido, o essencial é que a pressão hidrostática do fluido de completação suplante a pressão da formação, não sendo necessário (na verdade, é até indesejável) que a formação absorva qualquer quantidade deste fluido. Um bom amortecimento é aquele que minimiza o volume de fluido perdido para a formação.
Existem basicamente três formas de se amortecer um poço, e existe também a possibilidade de se trabalhar com o poço sem amortecê-lo. Neste último caso, também podemos dizer que há um amortecimento natural do poço.
AMORTECIMENTO POR CIRCULAÇÃO
Neste tipo de amortecimento, é necessário que haja um ponto de comunicação entre a coluna e o anular, por onde se dê a circulação do fluido de completação. Normalmente, em poços equipados com gás lift, a própria válvula de gás lift permite esta circulação. Para outros poços, pode-se utilizar uma sliding sleeve previamente instalada, ou mesmo um TSR desencamisado. Em casos extremos, pode-se perfurar a coluna, com arame ou cabo elétrico.
O amortecimento pode se dar por circulação direta ou reversa, embora, na grande maioria dos casos, utiliza-se a circulação reversa.
Isto porque, estando a coluna previamente preenchida com petróleo e gás, e o anular apenas com gás, as paredes do interior da coluna já se encontram impregnadas com o petróleo, o que não ocorre com suas paredes exteriores, bem como com as paredes internas do revestimento.
Como, para haver uma perfeita remoção do óleo “agarrado” nas paredes, é necessária uma ação mecânica do fluxo de fluido de completação, a circulação reversa oferece duas vantagens:
- Não suja as paredes que originariamente se encontravam limpas;
- Oferece muito maior eficiência de limpeza nas paredes internas da coluna, visto que, para uma mesma vazão, a velocidade no interior da coluna é muito maior que no espaço anular, dada a sua diferença de áreas.
Havendo a possibilidade de se instalar um obturador na cauda de produção (normalmente, uma standing valve assentada no nipple R ou no perfil de assentamento do mandril do TSR), o amortecimento por circulação reversa torna-se não só possível, como também o método mais indicado para se amortecer o poço.
Em caso negativo, normalmente devido a incrustações na coluna, amassamento de tubo ou impossibilidade de abertura total das válvulas acima do ponto do assentamento (DHSV ou ANC), o amortecimento por circulação só é possível se a formação tiver uma pressão estática compatível com a pressão hidrostática do fluido de completação (caso em que haverá, durante o processo, uma pequena perda para a formação) ou se for efetuado um combate à perda.
AMORTECIMENTO POR INJEÇÃO DIRETA
No amortecimento por injeção direta, também chamado de recalque ou “bullheading”, o fluido de completação é bombeado, a alta vazão, pela coluna de produção, deslocando os fluidos produzidos, que são reinjetados na formação.
Normalmente, este método só é aplicado quando não há a possibilidade de se fazer o amortecimento por circulação, uma vez que é muito mais agressivo à formação produtora. Lembrar que a formação produtora é o bem mais importante em um campo de petróleo, mais que a sonda e até que o próprio poço, portanto, todos esforços sempre devem ser dispendidos no sentido de preservá-la.
O amortecimento por injeção direta tem algumas sérias desvantagens:
- Devido ao fato de ser mais pesado que o óleo/gás que estão na coluna, ocorre uma segregação gravitacional durante o recalque, a despeito do regime de fluxo obtido (precisa ser fluxo tampão, para minimizar esta segregação). Assim, uma parte do gás pode conseguir cortar o fluido, e, portanto, mesmo que o poço seja amortecido (Phid > Pest), é comum existir um gás remanescente na coluna.
- Para minimizar o problema de corte, normalmente costuma-se recalcar um voluma de 1,2 a 1,5 vezes o volume da coluna. Assim sendo, sempre ocorre a injeção de uma parcela do fluido de amortecimento na formação produtora, o que pode acarretar um dano a esta formação.
AMORTECIMENTO POR SEGREGAÇÃO GRAVITACIONAL
Este método é empregado, quase que exclusivamente, em poços equipados com BCS e com cauda selante. No caso dos poços do ATP-N equipados com BCS, já não tem muita aplicação, visto que são poços depletados e, portanto, não sofrem amortecimento quando em intervenção. Além do que, não são equipados com cauda selante.
No caso dos poços equipados com BCS e cauda selante, normalmente o BCS não vai até o fundo do poço, visto que, devido a seu diâmetro, normalmente ficam posicionados acima do liner.
Assim sendo, está inviabilizado o amortecimento por circulação reversa, visto que há um “gap” muito grande entre o fundo do poço e o ponto de circulação na coluna (normalmente, um MGL com VGL cega logo acima do BCS). Como o BCS não permite que se efetue a pescaria da STV assentada na cauda selante (na verdade, nem há continuidade entre a coluna e a cauda), torna-se inviável o amortecimento por injeção direta.
A solução é o amortecimento por segregação gravitacional. Este método nada mais é que uma circulação reversa, porém, a uma grande distância do fundo do poço. Faz-se a circulação abaixa vazão. Parte do fluido que sai do anular e entra na coluna, sobe, circulando normalmente. Outra parte deste fluido, porém, acaba cortando o óleo que está sob ela, por ser mais pesada, e fazendo com que este óleo suba até a superfície.
Embora este método seja eficiente, pois remove todo o óleo que existe dentro do poço, o tempo dispendido para o amortecimento é muitas vezes maior que a circulação reversa pura e simples.
AMORTECIMENTO NATURAL
Poços excessivamente depletados não podem ser amortecidos e mantidos cheios, sem que haja um combate a perda. Na maioria das vezes, este combate a perda é danosa à formação. Quando não, ainda assim é muito caro, pois o barril de BR-carb, utilizado para este combate, custa em média 80 dólares/barril. Portanto, sempre que possível, o combate a perda deve ser evitado.
Quando, durante a intervenção, não há previsão de se fazer a circulação de fluido no poço (por exemplo, para limpeza de areia do fundo do poço), o mais vantajoso é não amortecê-lo, e trabalhar com o mesmo em seu nível estático.
O amortecimento natural, portanto, se dá quando o próprio fluido produzido pela formação é capaz de gerar uma pressão hidrostática maior que a pressão da formação. Lógico que, neste caso, não há como a pressão hidrostática ser maior, pois, quando se igualarem, o nível do poço estabilizará, enm subindo e nem descendo.
No entanto, haverá uma pressão hidrostática igual à pressão da formação, e ainda haverá uma parte do poço que permanecerá vazia. Assim, qualquer que for o ganho de fluido do poço, o seu nível subiria e a pressão hidrostática, então, suplantaria a pressão da formação e retornariam ao nível de equilíbrio.
O amortecimento natural só é recomendável para poços com baixa RGO (até 300 Nm3/m3). Se o nível estático for muito alto (acima de 100 m), deve-se utilizar um aparelho para monitoramento deste nível, durante as manobras de retirada de ferro do poço.
Este aparelho se chama SONOLOG, e funciona através da emissão de pulsos sonoros no espaço anular do poço. Estes pulsos viajam até a interface gás/líquido, onde uma parte é refletida (eco) e captada novamente na superfície.
Conhecendo-se a velocidade de propagação do som no meio (pode ser ar ou gás natural), e medindo-se o tempo gasto para o pulso ir e voltar até a interface, pode-se, com uma simples conta de multiplicação, encontrar a profundidade do nível estático.
Para manobras de descida de coluna, não há necessidade de utilização do Sonolog, visto que, nesta situação, o nível vai estar sempre subindo, a cada seção imersa no fluido e, portanto, a formação vai estar sempre absorvendo e nunca produzindo.